Miriam Vasconcelos
Era 25 de dezembro... O ano... 1963. Uma bela tarde de Natal!
O sol quente ardia lá fora...
O pai sentou-se para ler um gibi, após buscar a parteira - uma japonesa,
antiga moradora da cidade de Adamantina – Ele não chegou a terminar sua
leitura, quando um choro ecoou pela casa... Nasceu uma garotinha...
Não deu trabalho pra nascer, se deu trabalho depois, para sua mãe paciente e
cheia de amor para dar, não sei... é melhor não cogitar.
Seis meses se passaram... Tudo bem com a garotinha, tirando todas as
tentativas de leite rejeitadas, inclusive o materno, ela aceitou o de
“soja”... Ufa para sua mãe!
Mas de repente, talvez numa outra tarde de sol quente, não sei... sua mãe se
aproximou do berço e uma imagem se formou... Ela suspendeu a garotinha nos braços e... Oh! filhinha, você está toda vermelha! Será que tomou sol? Ela olhou para todos os lados, não havia sol no quarto...
E esta foi a primeira vez que esta garotinha ouviu esta pergunta... Muitas,
muitas, muitas e muitas outras vezes ouviria novamente, sem ao menos ter
visto a cara do sol...
Ela foi crescendo... O tempo foi mudando suas feições, seu corpo, sua
personalidade, seu espírito e também a sua pele... Vieram bolinhas ásperas, pelo corpo, vieram coceiras, feridas nas pernas, nos braços, nas mãos...
Vieram remédios, médicos, bronquite, simpatias, cortisonas, hospitais,
inchaços, choros, tristezas, preconceitos... Seu diário de adolescente que o diga, quantas lágrimas em suas páginas...
Mas tudo isso não chegou sozinho na vida dessa garotinha...
Ao longo dos seus 40 anos, também vieram alegrias, amores, paixões,
realizações, amigos, marido, filhos, sucesso, prosperidade e principalmente
“valores”.
E de repente... neste flash de vida, neste pedaço de papel, a garotinha, a
adolescente, a mulher, a mãe... pode dizer com toda certeza : - Os valores humanos herdados e os conquistados em uma vida, vão muito mais além de uma doença chamada dermatite atópica...
“A atopia apenas faz parte de mim... mas eu não sou a atopia.”
Eu sou a Míriam.